sábado, 10 de setembro de 2011

Portugal participa na maior experiência de fusão nuclear


IPFN contribui com dezoito investigadores
Bruno Soares é responsável pela participação portuguesa no JET

Portugal tem a quarta participação mais importante nas campanhas experimentais do maior reactor experimental de fusão nuclear actualmente em operação na Terra, o tokamak JET.

A seguir à Alemanha (21 por cento), Reino Unido (16.9 por cento) e França (12 por cento), a participação lusa é de 7.5 por cento do total de investigadores e é assegurada pelo Instituto de Plasmas e Fusão Nuclear (IPFN), unidade do Instituto Superior Técnico (IST), Lisboa.

São dezoito os investigadores do IPFN seleccionados a nível europeu para tomarem parte nesta experiência, no período entre Junho de 2011 e Março de 2012.

Em entrevista ao Ciência Hoje, Bruno Soares Gonçalves,responsável pela participação portuguesa no JET, explica que “na equipa existem vários especialistas em diagnósticos (espectroscopia, feixes de iões pesados, raios-X, reflectometria de microondas), análise de dados e interpretação dos resultados experimentais, teoria e modelização e controlo e aquisição de dados”. Existem ainda “dois operadores qualificados (Session Leaders) que se encontram entre o número limitado de investigadores que podem operar o dispositivo experimental (menos de 20) e durante este período mais três investigadores irão ser treinados para se tornarem Session Leaders”.

De acordo com o cientista do IPFN, esta participação “representa o reconhecimento do trabalho desenvolvido e qualidade dos investigadores que participam no programa Europeu de Fusão. É uma importante demonstração do sucesso da Associação EURATOM-IST, liderada pelo IPFN, um projecto que completou o ano passado 20 anos de actividade que contribuiu para uma participação activa de Portugal no desenvolvimento de ciências e tecnologias de ponta com aplicação à fusão nuclear”.

André Neto, Ivo Carvalho e Diogo Alves foram os três investigadores do IPFN seleccionados para serem operadores qualificados deste grande dispositivo experimental. Tratam-se de investigadores “formados em Engenharia Física Tecnológica no IST, que desenvolvem trabalho na área de controlo e aquisição de dados e física experimental”, refere Bruno Soares Gonçalves. E “foram seleccionados após participarem num curso de formação para Session Leaders organizado no JET, no qual se destacaram com uma nota bastante elevada na avaliação do fim do curso”, acrescenta.
Solução energética

Interior do tokamak JET com sobreposição de uma fotografia do plasma (à direita)

O reactor tokamak JET localiza-se em Culham, Oxford, no Reino Unido e é o “único dispositivo de fusão nuclear por confinamento magnético capaz de operar com misturas de deutério e tritio. É colectivamente utilizado por mais de 40 laboratórios membros da EFDA (European Fusion Development Agreement), um acordo em que Portugal é representado pelo IST, contribuindo para o programa mais de 350 investigadores e engenheiros de toda a União Europeia e da Suíça”, refere Bruno Soares Gonçalves.

“Desde 2000 que a participação portuguesa no JET tem vindo a aumentar, reflectindo a elevada qualidade e o reconhecimento internacional dos investigadores do IPFN. Actualmente encontra-se em construção um reactor de maiores dimensões (ITER) que visa a demonstração da viabilidade científica e tecnológica da energia de fusão. O JET foi um passo necessário para testar muitas das tecnologias que irão ser usadas no ITER, sendo também crucial para a formação da futura geração de investigadores que irão trabalhar na construção e operação do ITER”, continua.

As reacções de fusão nuclear são semelhantes ao processo que fornece a energia ao sol e às outras estrelas. Como explica Bruno Soares Gonçalves, “a investigação em fusão nuclear visa a produção de energia eléctrica com base no aproveitamento energético da energia libertada nestas reacções. A fusão nuclear é potencialmente uma fonte de energia capaz de fornecer electricidade de base sem emissão de gases causadores do efeito de estufa, com combustível abundante (o deutério extrai-se da água do mar, assim como o lítio, do qual se produz o trítio necessário) e incomparavelmente mais segura e limpa que os reactores actuais, baseados em fissão nuclear”.

Segundo o investigador do IPFN, “o JET foi o primeiro dispositivo de fusão a produzir uma quantidade significativa de energia de fusão, demonstrando que a investigação nesta área poderá fornecer uma solução energética para o futuro”.

Reirado de Ciência Hoje

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